10 de set. de 2013

O Tao do Parkour

15/06/2013 - texto por Dan Edwards - post original: aqui




Em várias atividades, artes, esportes e disciplinas diferentes se discutiu a respeito do método Jeet Kune Do(JKD) de Bruce Lee. Frequentemente o JKD é aplicado erroneamente, mas claro, justificado com floreios e presunções pessoais, algumas pessoas tentam explicar algum tipo de método de treino ou de desenvolvimento que não tem estrutura nem base científica com o nome JKD. Nada poderia estar mais longe do que Bruce lee buscava com suas ideias que, de fato, são seu próprio caminho em busca da liberdade pessoal.

Entretanto uma analogia significativa e forte pode ser feita entre as ideias de Lee e nossa própria disciplina, o parkour[1]. Na verdade, parkour é um exemplo perfeito do JKD na prática. Para explicar melhor é necessário definir primeiro o que Lee queria dizer com o termo Jeet Kune Do e de como  ele o aplicava ao seu próprio treino

Jeet Kune Do, apesar de existirem muitas escolas e associações que ensinam ao contrário, não é um estilo. Não é um sistema, nem uma compilação de técnicas, nem um amálgama de movimentos eficientes de diversas artes marciais. Não é boxe misturado com Wing Chun misturado com Muai Thai. E certamente não é a simples imitação dos movimentos do próprio Lee.

 
Jeet Kune Do é simplesmente a ideia de funcionalidade. É jogar fora qualquer coisa que não sirva para o objetivo de determinada pessoa; no caso de Lee, era se tornar o melhor e mais completo lutador  que ele poderia ser. Lee aplicou essa ideia sem pena em seu próprio treino e recomendou que os outros fizessem o mesmo, para que o treino seja apenas aquilo que realmente funciona, apenas o que é diretamente útil e funcional para alcançar determinado objetivo.  


O paradoxo da Liberdade
Isso significa, quase paradoxalmente, que o JKD é ao mesmo tempo extremamente libertador e rígido em sua abordagem. É libertador porque tem apenas uma regra – se funciona, use – e é rígido pelo fato de excluir qualquer coisa que não esteja de acordo com um único objetivo: de chegar a um resultado real e efetivo. Qualquer coisa para se amostrar, qualquer coisa “florida” ou que apenas serve para parecer legal e aumentar o ego do praticante – é instantaneamente descartado. Jeet Kune Do é realmente um método impiedoso e direto – o que o torna, é claro, tão eficiente. Sua base pode ser encontrada nos quatro fundamentos de Lee, os quais são:
  •      Absorva o que é útil
  •      Rejeite o que é inútil
  •      Estude a partir de suas próprias experiências
  •      Acrescente o que for especificamente seu


Parkour é basicamente a mesma coisa. Não é uma coleção de técnicas ou movimentos, nem um sistema restrito ou uma tradição padronizada ou uma metodologia de treino dogmática, nem é baseado em regras que não seja essa: se funciona, use.
Parkour, como o JKD, é a idea de que o praticante faz seu próprio treino. Não é nem tanto uma forma de pensar, é mais um jeito de aprender em como pensar em seu próprio movimento, aprender em como treinar para atingir determinados objetivos: uma filosofia direta de enfrentamento com a verdade, olhar para si e para as próprias habilidades e analisá-las: pensar como e o que você tem que fazer para chegar onde você quer.
Novamente isso significa uma forma de liberdade que não é simplesmente fazer o que quiser. Isso não era o que Lee queria ao desenvolver o JKD, muito pelo contrário. Para ele, a realidade do combate guiava seu treino – então ele se colocava para enfrentar aquela realidade diretamente na cara e perceber exatamente o que ele devia fazer para se aperfeiçoar, gostasse ou não, quisesse ou não. Isso significava treino pesado, constante estudo, intensa auto-análise e senso crítico. Era preciso enorme disciplina e atenção, uma suprema força de vontade e clareza. Lee percebeu que sua libertação seria um resultado de muito trabalho duro.
Na verdade,  aplicar os fundamentos do princípio do JKD – ou parkour – é muito mais difícil que aperfeiçoar qualquer conjunto de movimentos ou técnicas, ou permanecer em algumas regras pré-estabelecidas. É mais difícil justamente porque coloca a responsabilidade do crescimento pessoal completamente nos ombros do praticante. E é isso que também torna os princípios tão fortalecedores.
Espírito de Luta
No parkour, assim como no JKD, não há nada ou ninguém para colocar a culpa por ter errado, por não conseguir solucionar os próprios problemas. Com muito comprometimento, esforço e perseverança sempre é possível encontrar um caminho. Se tivéssemos que identificar o valor mais crucial no treino de parkour poderíamos sem hesitar ver a força interna, aquela vontade de recusar a desistir ou de ser derrotado, como uma forte candidata.
Com isso em mente, a ideia do JKD torna sua aplicação praticamente sem limites e ,quase que inevitavelmente, uma ferramenta que leva ao sucesso. Com o tempo a combinação de um bom estudo, prática e reavaliação levará você para as respostas que procura em qualquer das áreas que escolheu. Agora, é claro, esse processo de estudo e prática pode ser mais ou menos eficiente a depender de alguns fatores, incluindo acesso a boas informações (através do ensino, orientação, conhecimento, experiência dos outros, etc), julgamento sensato de informações e rigorosa auto-disciplina; mas o componente vital é a decisão de levar adiante, de ver até o fim – o comprometimento de fazer o que for necessário para perceber o próprio potencial. Lee priorizava isso acima de tudo, dizendo:
“Persista, persista e persista. A força pode ser criada e preservada através da prática diária – um esforço contínuo.”  
Esse espírito de luta, indomável, essa força de vontade infinita, é a essência do parkour e Jeet Kune Do. Cative isso e poderá alcançar qualquer coisa, é a única liberdade que realmente importa – a capacidade de criar a si mesmo.
“O vazio é o que está no meio das coisas. O vazio inclui tudo; não havendo oponente, não exclui nem se opõe a nada. É um vazio vivo, pois todas as formas emanam dele, e quem entender o vazio, será preenchido por vida, força e amor de todas as coisas.” Bruce lee, 1940-1973

[1] Como sempre eu uso as palavras, parkour, freerunnind and art du deplacement como termos intrísecos que descrevem a mesma atividade. Para facilitar eu usarei o termo parkour nesse artigo.
Tradução por Gustavo Ivo

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