11 de mar. de 2015

Desafio de Hércules

Texto por Gustavo Ivo
Revisão e fotos por Juliana Fajardini


27/fev de 2015

O que poderia ser uma sexta-feira normal para muitos, tornou-se um dia épico para quem compareceu no Imbuí. 

Dia de realizar o Desafio de Hércules. As 12 tarefas que os deuses fizeram para rir de você.




Pessoalmente, não era a primeira vez que ia encará-lo, já tinha o realizado antes. E, por isso, a preparação psicológica nos dias anteriores foi intensa. Às vezes, não importa quantas vezes você realize algo, algumas coisas "never get easy" - nunca ficam fácil. 

Começamos com quase 10 pessoas um pouco depois das 19h. Com o passar dos primeiros tiros de 100m, mais alguns chegaram.

Foi bom perceber que, desde o início, a maioria estava disposta a encarar o desafio. Vieram preparados. Os exercícios foram passando e, diferente dos outros que participei, a galera tava mais focada, não lembro de ouvir mimimi ou desculpas. Quem percebia que não ia continuar, simplesmente se retirava. Não precisava justificar pra ninguém. 

Ao mesmo tempo que havia um clima descontraído e familiar, a gente atrapalhava uns aos outros no agachamento, dificultando. Pressionava uns aos outros um pouco nas barras, na zoação, e assim foi.
burpees..



Aqui tenho que ressaltar que tive dificuldades nas precisões, não pelo número de repetições, mas as que estávamos fazendo requisitavam mais atenção e foco, senão poderíamos nos machucar. Muitos sentiram isso também, eu mesmo já tava começando a escorregar no meu próprio suor que se espalhava pelo pé e a cada precisão deixava mais escorregadio o muro.

De modo geral, as coisas fluíram bem até os climbs e planches, o cansaço muscular, suor e cãibras (vide werley e lucas hahah) já tinham sido internalizadas.


Climbs. Pra mim, senti-me fraco e um lixo, mas não podia reclamar. Não ao ver lucas climbando quase mordendo o muro, climbava com o cotovelo, descia pro cat, subia de novo, descia pro cat, subia de novo e de novo. 


Planches. No primeiro planche, werley não conseguiu nem subir na barra. No segundo, não subiu de novo. Na terceira, puxou o capiroto e subiu na raça. Uma repetição. Foi tentar fazer outro, os músculos não respondiam. E assim foi, de um em um, dois, três… parar não era uma opção

Não posso deixar de falar, mas a gente riu muito nesse momento. Não por ridicularizar, mas por todo mundo se identificar com esse momento de certa forma, aquele momento em que você acha que vai subir com tudo e os céus dizem: "DESÇAAA! Ninguém vai subir nessa porra não!"

Na parada de mão, morremos de rir juntos ao ver lucas ter uma cãibra no meio do ar, quando tava subindo. E wesley, que deve ter tido cãibras pela metade do corpo. hahah 

Momentos de sofrimentos juntos que vieram com doses de felicidade e amizade.


Enfim, os quadrupedais. 1km.

Diferente dos outros que participei, muitos chegaram até aqui. Aguardamos para começarmos juntos. Sabendo que no momento que um puxasse, todos começaríamos, ficamos uns dois, três minutos esperando. Não sei se esperando todos se sentirem preparados, mas aí, do nada, cabrine agachou e começou. Todos descemos na hora. 

Falar um pouco mais de minha experiência agora. Brunin fez os primeiros 100, logo depois cheguei. Cheguei e comecei a voltar já; brunin veio na hora. 200, respiramos, voltamos. 300, respira, 400, respira. Assim até 500. Nesse momento, quando íamos fechar 500… brunin: "Guh, chegar lá, bate e volta". Ao voltar, ainda no início, brunin: “Guh, se eu disser pra chegar, bater e voltar, você diz o quê?" (risos) "Eu não falo nada.", respondi.

Naquele momento se concretizou o que já estávamos sentindo desde o início: eu e brunin íamos acabar juntos. Não tinha mais eu ou ele, éramos o nós que iria até o fim. Vocês não sabem o quanto eu xinguei ele toda vez que ele dizia esse bate e volta. Tive que parar pra respirar alguns segundos algumas vezes, mas toda vez que eu fazia isso, pensava: "essa dor não é só minha"; "se eu não parar, ele não vai parar". Nossos punhos começaram a sentir um pouco, as pernas queimando direto… mas, em silêncio, juntos, continuávamos. Em certo momento ele disse: "um passo atrás do outro". Esse é um dos principais ensinamentos desses desafios longos. Não adianta se desesperar pelo futuro, pelo que tá lá na frente, é um exercício após o outro, uma repetição de cada vez. Em um momento você chega.

Nos últimos 100 metros, quando quase no fim, ele completa: "já que tamos muito cansados, vamo dificultar e ir mais rápido" (leia-se mais rápido, um pouco mais, não é aquela velocidade que "mascara" a dor). Aqui eu xinguei muito. Hahah Começou a arder a porra toda até o último centímetro que faltava. 

Quando acabamos; depois de descansar uns poucos minutos, percebemos que não éramos só nós a concluir juntos. Descemos e fomos acompanhar os outros, dentro de nossos limites. Lucas com as bolhas, dan dan suando que nem a peste e mão cortada, cabrine com a mão fudida tb, juh e werley que começaram juntos e tavam na mesma sintonia. Assim como eu e brunin, era "Wesley, vsf, eu te odeioooo!" por juh a cada passada no quadrupedal. hahah

Juh, que não ia fazer o desafio com a gente, fez o próprio treino e depois acompanhou observando de perto, teve que entrar na brincadeira. O que começou com um "Faça 100m com a gente"; fechou em mais de 1km no fim. Se puxamos ela, ela, pela força de vontade, puxávamo-nos em dobro a continuar. Esse é o espírito do parkour, resistir, persistir, ajudar, compartilhar. 

Cada força que fazíamos em nós mesmos, era um pouco de força que dávamos para os outros também. Demorei para entender no parkour o que significa "ser forte para sermos fortes juntos". Tinha que ser forte pra passar essa energia pros outros. A força é do grupo, compartilhada, se um está fraquejando, nos limites, temos que ser ainda mais fortes por ele.

Os últimos 100 metros, é difícil descrever. Cada um que completava 900, voltava e acompanhava quem ia fechar os 900. Uma vez, duas, três, até estarmos faltando a última ida.

Antes de sair, curiosamente, conversávamos sobre um assunto qualquer, cotidiano. E aí, descemos e fomos. Acompanhei mais cabrine e dan, que tavam mais atrás. E finalizamos. Muitos pela primeira vez tinham terminado. Nunca tinha visto tantos acabarem também.

Ainda faltava um guerreiro. Felipinho, que começou os quadrupedais depois, ainda faltava 200m. Na última ida dele, voltamos, pra terminar, dessa vez sim, todos. Ninguém vai ficar pra trás. "Start together, finish together" - Começamos juntos, terminamos juntos. Uma frase que só pode ser compreendida se vivida.

Preciso lembrar e chamar atenção pros dois iniciantes que fizeram quase todo o desafio. Primeiro contato com o parkour, e se mostraram determinados. Demoraram mais que a maioria, mas persistiram. Aguentaram.

Completar o desafio era o de menos. Treinar focado, determinado, sentir-se forte e fraco, trocar dores, frustrações e êxitos - e se divertir -, isso é parkour. 

Nem lembro mais que horas acabamos, creio que devia ser quase meia noite.

O fim?

Risos. Por causa de uma ideia imbecil, digo logo de dan dan, acordamos (mais imbecis ainda em concordarem) que faríamos 5km de corrida depois do Hércules. Eu, dan dan, cabrine e brunin. 

Nas primeiras centenas de metros, comentei com cabrine: "taquepariu, pernas fodidas, vou num ritmozinho de trote aqui". Logo depois, ao lembrar de tudo que passamos, pensei: "foda-se". E estourei o ritmo. Brunin, eu já sabia que viria (hahah), veio logo depois me acompanhar. Quase em total silêncio durante a corrida, mas novamente juntos em espírito, finalizamos juntos. Meia noite, correndo, nem víamos dan e cabrine mais, mas sabíamos que eles estavam fazendo também. E mais dois planches para todos, pra assinar o fim. 

No final não haviam troféus, medalhas ou glórias, flores, tvs ou reconhecimento vindo de um público espectador. Não. Haviam dores, bolhas, cicatrizes, suores, cansaço. 

E os melhores momentos da minha vida.
Uma família. 

Eu sei que não preciso dizer isso, mas muito obrigado. Muito obrigado a todos que fizeram o desafio, com êxito ou não. O espírito ainda existe. E, como ouvi de um amigo esses dias: "um sonho só morre quando você deixa ele morrer dentro de você."

- Vídeo curto desse dia


1 comentários:

Duddu Rocha disse...

Me emocionei. Obrigado.

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