13 de mai. de 2015

Planches - 400: Parte I

Primeiro texto de Wesley em nosso blog. E, já de cara, um relato e tanto.

Dia 25 de abril havia sido marcado um desafio, e a seguir você vai acompanhar uma série de textos de quem passou por essa experiência.


Planches - 400 - Parte I

Texto por Wesley Santos

Ontem fui fazer o desafio dos 400 planches. Ou assim eu achei que este seria o desafio até chegar lá. Logo após cumprimentar meus amigos, fui questionado:

-“Vai fazer 400 ou fechar 1000 também, Wesley?”.

Bem, já estava ali, por que não tentar, né? Prontamente respondi que faria até onde conseguisse. E assim comecei meu desafio.

Cheguei atrasado, logo não foi possível começar o desafio junto com todos, porém tentei adiantar o máximo de repetições possíveis, para tentar ficar próximo pelo menos. Bom, não foi possível, assim como fui alertado por Felipe antes de começar, minhas mãos abriram. Pele, sangue e suor tudo misturado na mão, segurar na barra era uma tortura, então a envolvi com esparadrapos e prossegui, tentando agora acompanhar o ritmo deles: 2 planches a cada 1 minuto. Também não consegui, o esparadrapo se rasgou e mais uma vez voltei a fazer os planches com as mãos nuas. Sempre que era tempo de fazer uma nova repetição, já imaginava a dor de pegar na barra, algumas vezes esperava o próximo minuto para ir fazê-la. Mas sabia que descansar aquele minuto a mais não mudaria nada, meus braços, ombros e pulsos estavam ótimos, somente pensar em segurar na barra com os calos abertos me fazia hesitar. Sabia disso e lutava contra, mas sempre custava a levantar e puxar mais dois planches. 

Após algum tempo, João saiu para comprar suprimentos, pedi-lhe ataduras, e quando voltou, já fui colocando elas nas mãos. A dor não sumia com esta ajuda, mas era mais suportável e assim voltei a tentar seguir o ritmo imparável de Daniel e Gustavo, desta vez mais focado. Logo que eles desciam da barra, eu subia. O tempo voava. Ao descer e anotar a série eles já estavam subindo de novo, era desgastante pensar que já era hora de voltar pra barra, mas os números aumentavam gradativamente com aquele ritmo.

Completei 120, e a cada 30 planches precisava ajeitar a atadura, mas dava pra continuar. Cada série uma pegada diferente a fim de encontrar uma confortável, porém, não havia posições confortáveis então o jeito era continuar variando, desgastar um setor por vez das mãos.

Toda vez que necessitava ajeitar a atadura, perdia o ritmo. 1, 2, 5 minutos me preparando para pegar novamente na barra, mas voltava e continuava. 

Dois planches por vez e após algumas horas, mais de 3 só pra constar, alcancei os 300. Não sabia como ou se terminaria, chegava a ter calafrios quando tocava na barra, mesmo com as ataduras. Mas ao ver aqueles ainda com seu ritmo, imparável e constante, chegar na barra e sem hesitar puxar 2 planches, com as mãos nuas, foi o momento da revolta, o que fazia a dor deles diferente? Suas mãos estavam 3 vezes piores que as minhas e ainda assim eles continuavam. Automaticamente você pensa, qual será o macete? Parei este pensamento no momento em que ele passou por minha mente, e neste mesmo momento, também sem hesitar, puxei 2 planches, retos, como deveriam ser sem buscar uma posição mais confortável, ou coisa parecida.

Eu sabia que aquilo que pensei é uma negação do que eles acreditam, do que acredito, por mais que tenha sido um pensamento passageiro, pareceu-me uma ofensa para eles. Treino com eles há tempo suficiente para saber que não foram “pegadas variadas” ou “posições mais leves” que os levaram ao nível de foco que eles estavam e sim os seus esforços, tanto físico quanto mental. E por isto naquele momento decidi, não havia um talvez eu termine o desafio, não quando meus companheiros de treino já haviam completado os 400, e prosseguiam rumo aos 1000. Não, eu completaria sim o meu desafio e os seguiria até onde fosse possível seguiria aquele estado de espírito em que eles se encontravam até onde o meu espirito conseguisse.

Bem, meu espírito não se manteve por muito tempo, toda aquela onda de motivação se foi junto com o novo calo que se abriu, não parei, mas meu psicológico estava a desabar a qualquer momento, faltavam 40 e neste momento os meninos foram descansar, quando alcançaram os 700 planches. Eu não tinha mais porque puxar a barra, não tinha mais seu ritmo para seguir, tudo apareceu de vez, fome, sono, dor de cabeça. “Se você parar agora não há problema algum”, era o que eu me dizia. Mas por tantas vezes dizer a tantos amigos que já tinham passado da metade e que dava pra terminar, então era no mínimo minha obrigação terminar. Pensar isto não me motivou, nem um pouco, mas prossegui, de dois em dois, com descansos livres, mas ainda pegando na barra, sem pensar e puxar, não havia outra maneira de subir, sabia que no momento da hesitação a desistência da série era certa, como aconteceu algumas vezes. Aos trancos, cheguei aos 398, e as 16h59min terminei os 400, neste momento o descanso dos meninos findava.

Fiz mais alguns planches, pouquíssimos, já não tinha ânimo algum de continuar, ao ver Gustavo procurar esparadrapos e não encontrar, ofereci-lhe as ataduras, fiz 2 planches de mãos nuas e desisti. Sentei e esperei o termino do desafio deles.

Ficava cada vez mais difícil para eles, já os acompanhei em muitos desafios, e esta era a primeira vez em que eu via a dor em seus olhos e a dificuldade em completar o desafio. Algumas vezes achei que não seria possível completar, mas eles continuavam lutando.

Bateu 19Hrs, foi o horário que Daniel disse que já estariam descansando, mas não estavam, estavam chegando na faixa dos 900, e prosseguindo.

Às 21:00 Daniel terminou e às 22:30 Gustavo pagou seus últimos planches, alguns a mais, dedicados a alguns motivos dele.

Não havia alegria em seus rostos, pelo contrário.

Logo após terminar, Gustavo com lágrimas nos olhos desabafou: falou sobre sua experiência e sobre suas dificuldades naquele desafio que custou a ser completado. Isso aumentou a angústia que sentia ao ver a dor em seus olhos, ao vê-lo balançar os braços em busca de forças durante seus esforços. Queria estar ali com ele, subindo, descendo, uma repetição por vez, queria ser forte para acompanhá-lo até o fim, para que ele soubesse que aquela dor era compartilhada e que ele conseguiria, nós conseguiríamos. Queria um espírito forte o suficiente para fazer nem que fosse aquelas ultimas 100, que ele tanto sofreu para completar, mas não tinha, talvez tivesse forças, mas meu espírito estava quebrado.
Este espírito é o que eu quero alcançar, suportar o que for necessário para vencer os obstáculos, lado a lado dos companheiros que se dispuserem a seguir esse mesmo intuito. 

1 comentários:

Unknown disse...

Que texto lindo velho! Eu queria ter uma mensagem legal para passar aqui, mas tudo o que tenho a dizer é PARABÉNS E OBRIGADO POR COMPARTILHAR SUA EXPERIÊNCIA. O mundo precisa de pessoas sem medo de enfrentar desafios, como vocês.

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