4 de out. de 2011

Recomeçando: mudanças, riscos e horizontes.


Esse texto já tem algum tempo, mas refere-se a um período que me ajudou a crescer em diversos aspectos, tanto na prática de parkour, como além dos muros.

Relata um pouco de minha experiência na prática e mais algumas reflexões. Está um pouco longo, mas espero que gostem. 

Ao texto, pois:

 Comecei a treinar há 3 anos atrás. No início a evolução era praticamente linear, muita coisa era nova, a cada dia havia novos desafios, via muitos vídeos e, pois, o começo voltou-se para esse aspecto ‘prático’ da disciplina. Passei pelo momento de descoberta do corpo, percebia mais claramente as possibilidades do meu corpo e, como tal, suas potencialidades.
Ao passar do tempo, percebi que esse ‘fogo’ inicial era inócuo sem uma base física resistente e explosiva, além de um acervo teórico básico. A partir daí a pesquisa, treinos físicos mais intensos, o cuidado com a alimentação e a ‘presença’ do parkour no cotidiano fundamentaram uma evolução progressiva. O treino cada vez mais pesado tornou mais clara a necessidade inerente de uma ‘mente’ ainda mais resistente: air alert, repetições incessantes, tiros de corrida, etc surgiam como alternativas de treino.
 
Desde o início sempre foquei muito em treinos físicos, o “para aprender você precisa estar apto a aprender” sempre rodou minha mente.

Mais tarde, sem descuidar do físico, voltei à prática em si, treinava mais movimentações, flow e percursos; o melhor era sentir os resultados na pele. Sentia-me mais forte, tanto fisicamente quanto psicologicamente; muitas coisas que considerava extraordinário tornaram-se comuns ao treino, sentia confiança em meu corpo e no que tinha aprendido.

Claro que nem tudo são maravilhas, durante todo esse processo houve muitas falhas, frustrações e momentos de fraqueza.Tudo isso me trouxe mais consciência (ou dúvidas) sobre o que é o parkour, métodos de treino, e, mais do que tudo, sobre mim mesmo.
 
Quando tinha cerca de 1 ano e 6 meses de treino, motivos pessoais me levaram a parar de treinar por um tempo.Meu cotidiano mudou muito e, conseqüentemente, minha relação com meu próprio corpo.

‘Voltei’ há cerca de 2 meses, e as primeiras impressões foram de decepção, frustração e desânimo. Meus tornozelos fraquejam, estou mais pesado, corpo pouco flexível, não conseguia planchear, meu climb já não é mais o mesmo, certos medos voltaram, enfim, sinto que retrocedi muito. Sabia que teria certas dificuldades pra voltar ao ritmo anterior, mas pensava que seria uma adaptação de curto prazo.

As coisas, entretanto, não são tão simples. Vejo-me de modo parecido com o começo, posso ver que terei me dedicar ainda mais do que antes, e que levará um bom tempo ainda para me recuperar. Por outro lado, percebo que é um momento muito importante para meu crescimento na prática. Recomeçar aparenta ser mais delicado do que no início e, assim, tornou-se a fase mais frágil e complicada que já tive.

O medo de não conseguir voltar a meu estado anterior é uma dúvida constante nos meus pensamentos. Outra dificuldade que sinto é recuperar, não só a força de antigamente, mas a vontade, o ímpeto, aquele ‘fogo’ para treinar. Ademais, aproveito o momento pra “voltar às bases”: voltar aos treinos físicos (musculares e aeróbicos), aterrissagem, quadrupedal/cats com variações, treino de flexibilidade, etc.

A responsabilidade de meu estado atual é resultado de minhas escolhas e, erradas ou não, as conseqüências estão aí. Ter maturidade para saber lidar com elas é fundamental para guiar um processo de mudança. Pois é, hora de lidar com os frutos de nossas escolhas; e a safra nem sempre é boa.

Comodismo ou disposição? Cansaço de treino? Até onde posso evoluir? Não há previsões na vida, só podemos arriscar. Arrisquemos, pois, mudar. Treine mais, inove mais, invente, dedique-se, seja, decida. A vida não é totalmente ‘planejável’ mas só reage a partir de nossas ações. Climbe nela, mas respeite-a, lembre-se que é um muro e, como tal, um apoio.

Nesses tempos, me lembro de tudo que já passou, o quanto já me esforcei, quantos desafios já enfrentei, quantas amigos conheci, quantos praticantes superaram dificuldades enormes, e onde consegui chegar. Essas lembranças mais o ótimo rendimento dos últimos treinos provam que mudar, não é só possível, como é, essencialmente, um processo de maturidade. Os rumos dos nossos treinos dependem, sobretudo, de nós mesmos.

”Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos”.
“Entre o querer e o poder existe você e o fazer”.

Bons Treinos!

2 comentários:

Filipe Matos disse...

Extramamente verdadeiro e puro!
Lembro-me claramente de como já passei por momentos assim na vida e de como os fundamentos, a repetição e o ímpeto de treinar fazem bem pra mim
muito bom gugaaaaaaaa
tamo junto ae 3 anos de parkouuur!
PS: Quando começamos Tartaruga ja tinha isso de prática!
UASHUASHUHAS

George Sousa disse...

Me surpreendendo cada vez mais com seus textos que representam de certo modo uma verdade "universal", pois muitos já passaram ou passarão por isso.

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